Embora consiga entender que o meu país precise de mim, a verdade é que a crise e o envolvimento do meu salário na mesma, está a causar-me uma enorme celeuma mental.
Faz-me alguma confusão que ainda a semana passada, Sócrates jurava a pés juntos que o investimento nos “monumentos de dimensões épicas” que seriam, o Aeroporto, o TGV e as auto-estradas, eram vitais para o desenvolvimento e consequente regressão do défice português, e mais, que não subiria impostos, para esta semana se preparar para nos atribuir 1% a mais de IRS (pelo menos a quem ganha até 2500€) e subir o IVA novamente em 1% também, fazendo com que a baixa do imposto, não tenha servido mais que manobras de diversão para as legislativas. E claro, cancelar as obras públicas que tanto eram vitais.
Compreendo todos os contornos, que fazem com que seja necessário esse aperto, o que eu não compreendo é porque é que há uma semana, eles eram possíveis de se realizar. Não concebo, como é que um governo não tem esta noção. Sócrates consegue ser, além de mentiroso, aldrabão e ladrão, um péssimo profissional. Qualquer um de nós, no seu local de trabalho, se tivesse algum lampejo de performance como esta era despedido na hora. Se eu afirmasse que teria dinheiro, para investir em marketing dos meus produtos, tornando-os competitivos no mercado e passado uma semana, tivesse que dar o dito por não dito e ainda por cima, informar que teria de aumentar os preços, deixando-os completamente fora do mercado, haveria algures pelo meio um péssima gestão do produto e o meu patrão correria comigo da empresa.
Ora de todos os pontos, parece-me que esta medida anti-social, não só é isso mesmo… contra os de sempre, como também é contraproducente. Ora se eu quero tornar o mercado português competitivo e estimular o mesmo, eu não posso diminuir o seu poder compra e ainda por cima aumentar os custos dos produtos, essenciais e não essenciais. A lógica dita que, para haver um maior consumo, tem de efectivamente haver um maior poder de compra. Claramente, o que se vai verificar até final do ano é uma retracção do investimento do mercado. Neste ponto, por fim há também que verificar que ao contrário de Espanha, nós não podemos congelar salários, pois já o estão e por conseguinte baixar em 15 ou 17% os salários do governo está absolutamente fora de questão.
Mas tal como o Teixeira dos Santos disse à Bloomenberg, o povo é sereno e será mais uma vez esventrado analmente, como se nada fosse e acatar tudo o que o Governo impõe sem qualquer objecção.
O que me espanta ainda em Portugal é que vimos nos dois últimos fins de semana milícias futebolísticas na rua, contra clubes de futebol, inclusive estão a organizar-se claques para evitar os festejos de final da Taça do Futebol Clube do Porto nas ruas de Lisboa, mas agir contra o Governo, contra por exemplo os aumentos de Gasolina, ninguém pega em bolas de golfe para arremessar aos carros novos do governo e no meio desta crise toda ainda se gastam 75 milhões para receber o homem de branco.