Costumo ouvir a Prova Oral da Antena 3 todos os dias. Saio às 19 horas do trabalho e por norma, enquanto estou lentamente a definhar no meu caminho de casa, consigo ouvir este programa.
Ontem, o mesmo, foi sobre poesia e contou com a presença (repetida) do Grupo “Caixa Geral de Despojos”. Existiu poesia claramente, mas também existiram bastantes repetições de teor pornográfico já referidos na primeira visita destes senhores. O que não existiu foi intervenção. Ninguém declamou algo sobre o estado de nação. Nem eles, que por terem voz activa na formação da nossa cultura actual é seu dever e obrigação fazê-lo, eles os actores deste palco que é Portugal, nem o público dessa vasta nação, que se perdeu em brejeirices sexuais populares.
Parece que estamos e somos assim porque queremos. Porque preferimos ignorar o futuro que se advinha, porque preferimos ser servos dos espanhóis e esquecer a malograda glória que um dia foi Portugal.
Deixo-vos com um poema que devia ter sido lido nesta Prova Oral, um poema que devíamos ter presentes a todo o instante. Quando fazemos escolhas, quando somos afectados por uma:
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço de terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
NEM o que é mal nem o que é bem,
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro,
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a hora!
Valete, Fratres.
Fernando Pessoa in Mensagem